quarta-feira, agosto 19

Carlos Drummond de Andrade

Em um momento de descontração, o grande poeta Carlos Drummond de Andrade escreveu:

‘Satânico é meu pensamento a teu respeito,

e ardente é o meu desejo

de apertar-te em minha mão,

numa sede de vingança incontestável

Pelo que me fizeste ontem.

A noite era quente e calma

e eu estava em minha cama,

quando, sorrateiramente, te aproximaste.

Encostaste o teu corpo sem roupa

no meu corpo nú, sem o mínimo pudor!

Percebendo minha aparente indiferença,

aconchegaste-te a mim

e mordeste-me sem escrúpulos.

Até nos mais íntimos lugares.

Eu adormeci.

Hoje quando acordei,

procurei-te numa ânsia ardente,

mas em vão.

Deixaste em meu corpo e no lençol,

provas irrefutáveis do que entre nós ocorreu

durante a noite..

Esta noite recolho-me mais cedo,

para na mesma cama te esperar.

Quando chegares,

quero te agarrar com avidez e força.

Quero te apertar

com todas as forças de minhas mãos.

Só descansarei quando vir

sair o sangue quente do teu corpo.

Só assim, livrar-me-ei de ti,

pernilongo Filho da Puta!’


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