sábado, junho 5

"Atracção Química"

Cada um de nós, com toda a certeza, durante as nossas vidas, independentemente da idade, já sentiu uma forte necessidade de se aproximar de alguém. Sem percebermos muito bem porquê, eis que, de um momento para o outro, aquela pessoa passa a ser o alvo constante dos nossos pensamentos. As nossas emoções despertam e incendeiam os nossos sentidos e, invariavelmente, começamos a sentir a necessidade de nos envolvermos e de partilharmos momentos e sensações. Será que existe uma explicação para que isto aconteça? Por que nos sentimos atraídos por uma pessoa e não por outras?
Muitos dirão que não será muito importante encontrar explicações e provavelmente até nem será. De facto a atracção existe e manifesta-se com frequência entre as pessoas, sendo por isso um fenómeno perfeitamente normal e comummente aceite. Mas as questões colocadas, não sendo de fácil resposta, possuem uma relevância excepcional, porque a atracção, molda no todo ou em parte o comportamento de quem está envolvido.
Penso que todos concordarão com este princípio: "a atracção é algo muito fácil de conhecer, mas muito difícil de explicar". Por essa razão, vamos tomar conhecimento com a opinião científica de uma das maiores especialistas mundiais, Helen Fisher, reputada antropóloga norte-americana, professora e investigadora na Rutgers University.
Certamente, todos já ouviram justificar um inesperado comportamento de uma pessoa que se sente atraída por outra, com a palavra "química". No senso comum, a "química" remete para uma ciência um tanto ou quanto obscura, que lida com matérias quase transcendentes. Pois bem, para Helen Fisher a "química" existe mesmo, tem uma explicação científica e desempenha um papel no relacionamento atractivo entre homem e mulher. No seu livro, intitulado Why We Love: The Nature and Chemistry of Romantic Love, a investigadora defende que aquilo que se convencionou chamar de paixão e que ela prefere chamar de "amor romântico", "não pertence ao domínio das emoções e resulta de uma interacção de substâncias no cérebro". Para Helen Fisher, "a paixão funciona como um instinto humano e é tão forte como outros instintos, tais como a necessidade de alimentação e de sobrevivência". Helen Fisher refere ainda que, "aquilo a que nos habituámos a chamar de paixão, liberta uma tremenda explosão de energia, de interesse em estar com o outro. Uma euforia quando as coisas correm bem, um desespero terrível quando as coisas correm mal". "O amor romântico provoca um enorme desejo…, uma euforia e uma energia transbordantes".
A resposta à primeira pergunta parece ter ganho contornos, por isso vamos agora conhecer a resposta à segunda pergunta, dada por Helen Fisher. Porque nos sentimos atraídos? "As pessoas sentem-se atraídas por alguém com quem interagem, mas sobretudo por alguém que consideram misterioso. Também se apaixonam por pessoas com o mesmo background sociocultural e com atitudes, expectativas e interesses paralelos." Por outro lado, a antropóloga defende que "todos nós temos uma espécie de mapa amoroso que vamos construindo ao longo das nossas vidas e que nos vai guiando". "Crescemos num mar de experiências que moldam as nossas escolhas românticas. Milhares de forças subtis, e invisíveis, controem os nossos interesses, valores e crenças amorosas". Se assim é, percebemos agora que, quando nos deparamos com alguém que reúna as condições ímpares moldadas pela nossa mente, se inicia de imediato o mecanismo de "atracção química", e aquela pessoa passa a ser a prioridade dos nossos pensamentos e das nossas acções. Mas o que é ainda mais extraordinário é que este processo induz a uma reciprocidade de comportamento. Ou seja, a outra pessoa pela qual nos sentimos atraídos, vai ela própria muito provavelmente iniciar um processo químico de atracção idêntico, relativamente a nós. Segundo os especialistas, essa reacção resulta não só dos sinais externos que emitimos quando nos sentimos atraídos, os quais acabam ser captados e por influenciar a outra pessoa, mas também resulta de factores extra-sensoriais, tais como a energia que emanamos e que é captada por esta última.
O "Amor Romântico" é apenas um de três estados comportamentais que se verificam entre um homem e uma mulher, refere a antropóloga. Os outros dois são a "Luxúria" e o "Apego". O primeiro é o puro impulso sexual. Uma pessoa relaciona-se com a outra só pelo prazer em si mesmo. Busca-se uma satisfação física que nem passa pela paixão nem pelo enamoramento. "O Apego é uma fase mais calma, normalmente seguida ao amor romântico, permite uma estabilidade emocional, o desenvolvimento da afeição e a vontade de proteger os seres amados".
Caro leitor (a), o facto de ter lido este artigo até ao fim já demonstra o seu interesse sobre este tema. Então, desperte a sua curiosidade, pense um pouco... e diga para si mesmo (a), qual é o estado comportamental que o (a) motiva neste preciso momento: Luxúria, Amor Romântico ou Apego? … Sendo que, segundo Helen Fisher, a força de cada um deles é de tal forma grande e absorvente que, a cada indivíduo só lhe é permitido experimentar um estado de cada vez.

Serrone
(Exclusivo para Algarve Repórter)

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