quinta-feira, março 24

Como se forma a ferrugem?

Não é preciso esperar que os alunos conheçam Química para iniciá-los nas questões ligadas a fenômenos cotidianos, como a ferrugem

Maria Rehder (novaescola@atleitor.com.br)

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Ilustração: Sattu
COMO O AR E A ÁGUA PODEM DESTRUIR O FERRO A combinação dos três elementos forma a ferrugem, mas evitá-la é fácil. Ilustração: Sattu
















1. Ar
O oxigênio penetra no ferro e começa a comprometer a resistência do metal. O processo químico é batizado de oxidação. Seus alunos vão estudar isso mais adiante, nas aulas de Química.

2. Água
O oxigênio também está presente na água, que acelera esse processo de oxidação. A combinação com o ar vai desgastando a estrutura do ferro, desde a borda até o centro do metal.

3. Ferrugem
O ferro oxidado assume uma coloração alaranjada e começa a se esfarelar: é a ferrugem. Nas áreas afetadas, o metal vai perdendo densidade e, se o processo não for contido, pode chegar à degradação total.

4. Prevenção
Para impedir que os agentes oxidantes (água e ar) ajam, a solução é impossibilitar o contato direto deles com o metal. Para fazer isso, basta revestir o ferro com uma camada de tinta ou óleo.

Por que a bicicleta só enferruja nas partes onde ela está sem tinta? O que é aquela substância laranja que aparece na lã de aço que fica molhada por um tempo sobre a pia? Por que o casco do navio não enferruja em contato com a água? Essas são algumas perguntas que podem aguçar a curiosidade das crianças e, ao mesmo tempo, se tornar grandes aliadas dos docentes no despertar do olhar científico-investigativo desde os primeiros anos do Ensino Fundamental.

Resultado do processo de oxidação, a ferrugem é fruto da reação química gerada pelo contato do ferro com o oxigênio presente na água e no ar. Essa explicação, quando apresentada apenas de forma teórica, é certeza de que não será compreendida pelos estudantes do primeiro ciclo do Fundamental. Especialistas ouvidos por NOVA ESCOLA, contudo, garantem que, quando ela é ensinada de forma prática, com base em experiências observacionais relacionadas à vida cotidiana, motiva desde cedo os alunos a averiguar as constantes transformações que ocorrem ao seu redor. Isso facilita o entendimento de princípios químicos que serão retomados e aprofundados até o fim do Ensino Médio.

Uma dica dada por Carlos Eduardo Godoy, assessor pedagógico de Ciências para o Ensino Fundamental I do Colégio Móbile, de São Paulo, é explicar para a turma que a ferrugem é um dos muitos fenômenos que ocorrem na natureza, assim como o crescimento dos seres vivos e a transformação da água em gelo.

Godoy recomenda que, a partir do segundo ano, os docentes criem o hábito de promover atividades observacionais para despertar a curiosidade dos pequenos. "Para ensinar a ferrugem, o professor pode pedir para os alunos pesquisarem se no portão de casa, no carro dos pais ou nas bicicletas há substâncias alaranjadas. Esse é um bom ponto de partida para explicar o fenômeno", afirma.

Praticar o registro dessas pesquisas, compartilhar resultados com os colegas por meio de argumentação e observar as relações entre os diferentes elementos da natureza são algumas atividades que, segundo Godoy, ajudam o estudante a se organizar para, desde o começo da vida escolar, desenvolver o método científico,o conjunto de regras básicas para realizar uma experiência a fim de produzir conhecimento. "É possível perceber que houve aprendizagem quando o aluno consegue generalizar o conteúdo ensinado, transferindo-o para seu cotidiano e mudando suas atitudes."

O químico Thiago Lopes, pesquisador da Sangari Brasil, em São Paulo, indica a problematização como um bom começo para a explicação da ferrugem para as crianças. "O professor pode falar que a ferrugem é composta dos três itens: ferro, água e ar. Um bom gancho para iniciar a discussão é perguntar o que se pode fazer para proteger o ferro do contato com a água e o ar em diferentes casos, como pintar a bicicleta ou manter a esponja de lã de aço embalada em lugar seco (leia mais no infográfico acima)", diz.

Lopes afirma que não é preciso que as crianças detenham conhecimentos de química para entender como evitar a ferrugem. "Dá para explicar de forma bem simples: se é preciso três elementos para que o fenômeno ocorra, então, basta tirar um deles do processo para barrá-lo."

Conteúdo incorporado ao cotidiano escolar

Os tênis podem até estar sujos ou molhados, mas a bicicleta sempre está limpa e bem guardada. Essa é a realidade dos estudantes da EM Professora Cynthia Cliquet Luciano, localizada em frente à praia da Enseada, em São Sebastião, a 204 quilômetros de São Paulo, que temem ver seu meio de transporte enferrujado. Segundo Zenira Salim da Silva, professora de Ciências há mais de 25 anos, o combate à ferrugem é um conteúdo que todos aprendem por necessidade. "Por morarem junto ao mar, desde pequenos eles conhecem as causas do problema e o que devem fazer para evitá-lo. Cabe a nós, professores, contextualizar esse fenômeno nas atividades em sala de aula", avalia.

"Sempre que podemos, motivamos nossos alunos a fazer relações com a rotina e pensar os impactos de cada conteúdo no cotidiano para, baseado nisso, buscar as teorias que explicam os fenômenos", conta Zenira. Ela destaca que o educador deve começar resgatando o conhecimento já adquirido pela turma e uma demonstração prática ajuda a introduzir o conteúdo. "A experiência da esponja de lã de aço é simples e funciona. Deixamos duas expostas ao ar na sala, uma seca e outra molhada. Com a umidade do ar que temos aqui, a ferrugem se dá rapidamente e isso estimula a curiosidade de todos", garante (leia uma sugestão para trabalhar o tema nas classes de 4º e 5º anos).

Para Zenira, é importante que o assunto seja retomado de modo a acompanhar a capacidade de entendimento dos alunos. "Como a ferrugem é influenciada por questões físicas, químicas e geográficas, serve de mote para que aprofundemos o conteúdo a cada ano", conta.

Olhar científico

A necessidade de aperfeiçoar o olhar científico-investigativo nos alunos brasileiros ficou evidenciada com a divulgação dos resultados do Pisa, a avaliação internacional realizada pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). No exame de 2007, 61% dos nossos participantes tiveram um desempenho pífio em Ciências. Num ranking de 57 países, o Brasil ficou em 52º lugar.

Antonio Carlos Dias Ângelo, professor do Departamento de Química da Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (Unesp), campus de Bauru, afirma que conceitos básicos de eletroquímica e termodinâmica podem ser transmitidos por meio da explicação da ferrugem. "No Ensino Fundamental, o professor deve valorize a observação e a experimentação, seguida da pesquisa", diz. Para Carlos Eduardo Godoy, do Colégio Móbile, em São Paulo, nessa fase, o professor não precisa diferenciar os conceitos de fenômenos químicos e físicos. "O importante é fazer com que os alunos percebam que o mundo está em constante transformação. O desafio é adequar a linguagem para que todos compreendam" explica.

Quer saber mais?

CONTATOS
EM Professora Cynthia Cliquet Luciano, R. Castro Alves, s/n, São Sebastião, SP

BIBLIOGRAFIA
Corrosão, Vicente Gil, Ed. LTC, 370 págs., tel. (21) 3970-9450, 139,50 reais
Princípios de Química - Questionando a Vida Moderna e o Meio Ambiente, Loretta Jones e Peter Atkins, Ed. Bookman, 968 págs., tel. 0800-703-3444, 216 reais

INTERNET
Conteúdo sobre Ciências de autoria do professor Carlos Eduardo Godoy.


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